quarta-feira, 14 de julho de 2010

Antologias


Ainda que hoje em dia a publicação de um romance, para um escritor amador, seja sensivelmente mais acessível do que, digamos, algumas décadas atrás, a tarefa continua deveras árdua; uma jornada quase que épica lutando bravamente por um espaço no mundo editorial e literário, sempre tentando vencer o monstro do preconceito que surge por parte das grandes editoras e dos próprios leitores brasileiros – que por vezes parecem considerar que histórias fantásticas escritas por gente de sua própria terra simplesmente não têm como exibir qualidade. Felizmente, em meio à tantas dificuldades enfrentadas por aqueles que tentam seguir o caminho da escrita, se popularizou nos últimos anos – provavelmente devido às facilidades trazidas pela internet e a crescente quantidade daqueles que se aventuram na escrita – um fenômeno que em muito pode ajudar um escritor que ainda não conseguiu o seu renome: as antologias.

O termo aparece pela primeira vez no prefacio da compilação do grego Meleagro de Gadara “the Garland”, obra que reúne epigramas – poemas curtos e que apresentam um único pensamento – dele e de outros autores e onde ele teria descrito o que fazia como sendo uma antologia, do grego, “buquê de flores”; com o tempo (muito tempo mesmo) o termo acabou por se popularizar e acabar sendo usado para qualquer coletânea de obras literárias de um ou mais autor.

A despeito da origem pródiga e antiga, as antologias as quais me refiro são um fenômeno relativamente recente e não é preciso aprender grego para entendê-las e funcionam de forma bem simples. Em primeiro lugar, tais compilações são “montadas” por via da internet (ou seja nada de atrasos e extravio por parte de correios de competência duvidosa hell yeah!) e a seleção de seu conteúdo em muito se assemelha com um concurso: são abertas inscrições e então aqueles que almejam participar mandam seus escritos seguindo algumas normas (tamanho máximo, tema e etc) e então os organizadores escolhem em torno de vinte contos daquela “safra”, para serem publicados em um livro (um livro físico, não virtual, diga-se de passagem) junto com uma pequena biografia de cada autor.

Neste tipo de publicação os direitos sobre cada conto continuam pertencendo aos seus respectivos escritores (se não fosse dessa forma eu nem teria me dado o trabalho de elaborar um post sobre o tema) e o pagamento do autor feito de forma a ajudar tanto na divulgação do livro e no custeio da produção da obra. Normalmente isso acaba por ocorrer sob forma de exemplares que o escritor pode vender sob consignação (dessa forma o risco é da editora, pois exemplares não vendidos podem ser devolvidos, aconselho aos interessados a verificar se a venda é realmente sob consignação) ou então o livro é vendido pela internet sob demanda e os autores têm direito a descontos para adquirir exemplares. Nas duas formas o escritor não paga nada pela publicação e, almejando angariar novos leitores, acaba ajudando na divulgação do livro.

Neste ponto, ponderando sobre o que já foi dito, alguém pode pensar: “Certo, certo... a idéia da coisa até que é interessante, mas não vejo sentido em publicar um livro que não é só meu, mas também de um monte de gente que nem mesmo conheço e além disso terei que praticamente trabalhar vendendo se quiser ganhar um pouco de dinheiro sendo que já tive o trabalho de escrever!” É verdade que a grana é pouca e que você vai ter que vender para consegui-la, mas alguém que pensar sobre o assunto com cuidado vai perceber que, neste tipo de publicação o dinheiro envolvido (ao menos para os autores) esta longe de ser o principal ganho, como irei exemplificar.

Creio que em primeiro lugar vem a questão da auto-estima. Todos que escrevem e postam seus trabalhos na internet (seja em sites ou blogs) sabem que, mesmo nesse ambiente, existe certa dificuldade em encontrar pessoas dispostas a ler o que foi escrito. Essa falta de retorno muitas vezes acaba por desmotivar o escritor ou, no mínimo, diminuir-lhe o ritmo de escrita, podendo até mesmo levar aos infames e inconvenientes “Writer’s Block”. Chega a ser elementar dizer que: a empolgação de saber que esta progredindo e que agora tem um material com registro na biblioteca nacional; a sensação de folhear um livro contém uma de suas histórias, seu nome sua biografia e ter a certeza de que será lido por pessoas as quais nunca conversou ou teve contato fariam com que qualquer um viesse a escrever com ânimo e ritmo renovado, provavelmente não tendo bloqueios criativos (nada mais que um estado psicológico) por um tempo significativo.

Outro ponto a ser observado é o fato de muitos escritores amadores não conseguirem moderar o que escrevem no sentido de se ater à idéia principal de uma cena ou capitulo que estão trabalhando, por exemplo. Tal coisa se não controlada pode levar uma história à perder seu caminho conforme o autor vai, sem querer, se estendendo por tópicos que estavam longe de ser os que pretendia abordar em sua trama; não que subtramas (side-quests para rpgistas) ou detalhes sobre o mundo em que uma história se passa sejam ruins, muito pelo contrario, são ótimos para enriquecer uma obra. Contudo é preciso saber conduzir as cenas e ter um domínio sobre o que se passa, para não correr o risco de deixar algo que foi feito para enriquecer a história mais forte que a própria história, dentro de um mesmo “romance”. Creio que a criação de contos são um ótimo exercício para treinar este domínio, principalmente quando se tem um limite de caracteres à seguir, pois “obriga” o escritor a ater-se em uma única “linha de pensamento”.

Não poderia deixar de também citar as facilidades que publicar em antologias pode trazer a um escritor caso ele decida “seguir carreira”. A começar que tal tipo de publicação, por mais que não traga todo o respaldo de um romance próprio, é um primeiro contato com editoras, o que é interessante para começar a ver as “dinâmicas” do mundo editorial, mesmo que só uma pontinha. Sendo que, por mais que seja um crescimento em menor escala, alguém que adquiriu como hábito sempre mandar um texto ocasional quando tiver tempo, vai acabar adquirindo uma “fama”, o que pode facilitar na hora de conseguir contrato com uma editora maior (que se fossem espertar teriam “olheiros” para dar uma olhada em publicações como essa) ou mesmo entrar em um acordo com uma editora menor, porém já velha conhecida devido à presença em múltiplas coletâneas. Na falta de uma publicação grande anterior, ter o nome em varias antologias é “carta de apresentação” melhor do que não ter o nome em lugar nenhum.

Por ultimo, mas, como normalmente acontece com o que fica pro final, não menos importante, também tem o fator de conhecer novos autores. Devo lembrar, para os que são mais anti-sociais, que ter uma “rede de contatos” com outros escritores é quase que fundamental. Como mencionado anteriormente, existe uma dificuldade em encontrar possíveis leitores, mas a dificuldade de descobrir pessoas dispostas a criticar e revisar uma história é ainda maior, desnecessário dizer que um colega escritor pode ajudar muito nesse quesito, além de talvez vir a recomendar histórias e livros interessantes (tão importantes para a formação de qualquer um que se propõe à escrever), indicar artigos sobre escrita ou sobre publicação e até mesmo dispor material que ele próprio escreveu para ser avaliado, exercício que pode vir a ser muito construtivo para quem escreve. Isso sem mencionar que, entre tanto preconceito com o escritor brasileiro, é de extrema importância que exista uma comunidade firme, para que, no fim, todos saiam ganhando.

Vou me encaminhando aqui para o fim do post. Se alguém ainda persiste com o pensamento de “whatahell, que ganho eu teria escrevendo para uma antologia?”lembro aqui que mesmo em um livro próprio, um romance em uma editora de renome, você ainda assim iria acabar fazendo papel de vendedor, ao citar para todos os conhecidos o livro que publicou e insistir para que comprassem. Se ao invés disso alguém pensar “pra que participar de uma antologia de tema X se eu escrevo no tema Y”... Bem... Creio que o exercício de escrever em outro estilo, em outro tipo de trama é útil para qualquer um que queira crescer enquanto autor.
Por fim, se nada disso ao menos despertou o mínimo interesse... Vamos apelar para a matemática.

Imaginemos que a antologia teve uns 20 autores. Vamos ver então uma perspectiva um tanto quanto pessimista: cada um deles vendeu apenas 5 exemplares. Isso quer dizer que... Pelo menos 100 pessoas agora tem em mãos um livro que foi escrito, em parte, por você! Olha que legal! Isso sem contar a cota que irá para livrarias depois de um tempo, promovendo e expandindo cada vez mais os horizontes dos escritores brasileiros e também das editoras que se propõe a publicar material nacional.

Well, encerro aqui este post, que também é meu primeiro neste blog. Espero que tenha agradado. Como sempre, recomendo qualquer tipo de critica \o


Segue alguns links de antologias que conheço:
Cruzadas - Histórias medievais http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=98308155
Sinistro - histórias de terror http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=55766008
Solarium - ficção cientifica http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=74823305
Caldeirão da bruxa - histórias envolvendo magia http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=98308110
Histórias fantásticas - histórias sobre fantasia http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=100407857



ps: desculpa a demora na postagem. Acontece que meu computador foi para a manutenção há uma semana e os infelizes nem disseram o problema agora. Já Deathaholic estava fazendo experiencias no linux dele e acabou por mandar o mesmo para a PQP.

4 comentários:

  1. Bem, as antologias realmente são uma forma bastante interessante de autores começarem sua trajetória na literatura, mas deve-se primordialmente prestar atenção a quais editoras você se filia, porque escrever em antologias pode ser uma faca de dois gumes.(como quase tudo na vida)

    Abraços,
    Parabens pelo Post, super estudado.

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  2. Post interessante. Eu acrescentaria na tua lista de links:
    - Tarja Editorial (Em Meio e Outros Mundos)http://tarjaeditorial.com.br/tarja/?p=152
    - Estronho (Extraneus) http://www.estronho.com.br/extraneus/
    - Histórias Fantásticas http://www.estronho.com.br/hf/

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  3. Interessante. Seria uma especie de ponte entre escritor amador cyber espaço e o profissional forada dele.

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  4. Post muito bem feito, concordo em parte com tudo que foi dito. Como disseram aí em cima, antologias podem ser facas de dois gumes, e é interessante que se tome cuidado para não se ater somente a isso. Como primeira experiência, considero mais do que válido.

    Abraços, continue postando!

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